quinta-feira, 27 de maio de 2010

A New Dawn - Romeu, Ripley, e Bella Swan - Destino e Herói Clássico no universo de Twilight

Romeu, Ripley, e Bella Swan
Destino e Herói Clássico no universo de Twilight
Rosemary Clement-Moore
Ok, fãs de curiosidades. O que o filme Aliens tem em comum com a clássica tragédia grega Édipo Rei? Acabou o tempo! Que tal esta: O que Romeu e Julieta de Shakespeare dividem com o filme de Jim Carrey ‘O Mentiroso’? Bip! Como tudo isso é relacionado com a série Twilight? Rosemary Clement-Moore, formada em teatro, explica que os livros de Meyer convocam os leitores a dois elementos centrais de todas as tragédias clássicas (para não mencionar Aliens e O Mentiroso) – empatia e medo pela heroína Bella Swan. Por que nós temos pena dela? E o que nós tememos por ela? Clement-Moore apresenta suas percepções.
É difícil para um especialista em literatura – para não mencionar um formado em teatro – ter de admitir, mas aí vai: Romeu e Julieta quase acabaram com minhas notas no primeiro ano de faculdade. Eu simplesmente não os entendia. Me sinto vagamente herege admitindo isso. A peça contém algumas das mais lindas (e citáveis) linguagens já escritas, mas me levou um bom tempo para entender porque era um clássico.
O que isso tem a ver com a luxuosa, interessante e gótica história de Bella e seu amor vampiro, de Stephenie Meyer? Quando eu li Crepúsculo pela primeira vez, me lembro de ter pensado que era um pouco de Romeu e Julieta, com a diferença que um deles já está morto. Então eu abri Lua Nova, e a primeira coisa que eu vi foi uma citação de Shakespeare. No primeiro capítulo, Bella e Edward estão discutindo as semelhanças (mais ou menos) entre sua relação e a famosa tragédia de Shakespeare. É legal saber, enquanto leitor, que você não está apenas imaginando coisas.
Meyer usa estes paralelos como vantagens. Na maior parte do tempo, quando você lê um livro tão romântico quanto Crepúsculo e suas seqüências, você espera tudo para dar certo no final. Um dos pontos fortes da história de Bella, ao menos para mim, é que nunca perde o senso de perigo. Meyer não se intimida para machucar seus principais personagens. O final feliz não parece um fechamento. A alusão à Romeu e Julieta é um lembrete de que o amor não conquista a todos. Na verdade, algumas vezes ele pode realmente acabar com tudo.
Mas a série tem mais em comum com tragédias clássicas do que o perigo de acabar cheio de corpos mortos antes das cortinas se fecharem. A história de Bella – seu romance com Edward, sua posição entre lobisomens e vampiros, sua complicada relação com Jacob – traz de volta o herói clássico, sorte, e a idéia de um destino determinado por uma característica tão essencial do herói, que não pode ser mudada, não importa as conseqüências. Em outras palavras, não é qualquer enredo semelhante que faz a história de Bella parecer uma tragédia clássica, mas são os elementos que fazem parte dela. São os mesmos elementos que, por milhares de anos, ressonaram com o público.
Para examinar esta história, nós temos que voltar ao passado, antes de Shakespeare, por volta de 300 AC, quando um filósofo grego chamado Aristóteles surgiu com teorias sobre literatura, que ainda afetam sobre como as pessoas pensam a respeito da arte, mesmo no século 21. (Eu avisei que era uma viciada em teatro. Mas fiquem comigo, pessoal.)
Nos tempos de Aristóteles, se você quisesse uma boa história, você não poderia simplesmente correr até a fronteira de Atenas e Esparta e comprar um livro. As pessoas iam ao teatro. Você talvez pense que uma peça na Antiga Grécia não teria muito em comum com o espetáculo de alta tecnologia na Broadway agora, mas na verdade somente a tecnologia mudou. As pessoas iam ao teatro pela mesma razão pela qual nós vamos assistir filmes ou ler um livro atualmente: para rir ou chorar, para ficar horrorizado ou maravilhado, para ficar entretido ou informado.
Existiam comédias e épicos, e existiam as tragédias. As tragédias são as únicas que nós normalmente temos que estudar no ensino médio: Édipo e Antígona, e todos os seus milhares de problemas famíliares. O histórico escolar não tira essas coisas apenas para pressionar estudantes avançados de Inglês (tão convincente quanto aquela teoria pode parecer). O impacto remanescente da literatura tem a ver com os planos da tragédia versus os da comédia.
Comédias clássicas iluminam as condições humanas, elas fazem isso criando exemplos exagerados das piores traços da raça humana. Eu vou perder meu anel que ganhei da Thespian Society por fazer essa comparação, mas – pensem em Jim Carrey em O Mentiroso. Ele faz o papel de um mentiroso convicto que é “amaldiçoado” para que ele possa falar somente a verdade. O personagem começa em um extremo – Carrey faz o papel de um ardiloso e insincero advogado que mente para o próprio filho – e termina no outro extremo – ele é forçado a soltar a verdade até quando está falando de banalidades, como quem soltou pum no elevador.
Os problemas ridículos que resultam das verdades exageradas de Carrey mostram como nós, como uma cultura, mentimos – mentiras brandas, mentiras por omissão. Comédias clássicas têm a intenção de comentar a sociedade humana como um todo. Tragédias, entretanto, devem se relacionar com o público num nível mais pessoal. O objetivo da tragédia clássica era causar emoções de pena e medo no público, para fazê-los sentir como se estivessem vivendo a história eles mesmos. Sentindo essas emoções pela atuação no palco (ou na página, uma vez que a publicação de livros chegou), nós aprendemos sobre o nosso lugar no universo.
Nós sentimos pena do herói clássico, porque mesmo que suas próprias ações o levem a seu destino, ele geralmente não merece o que lhe acontece (por isso a palavra “trágico”). O herói aprende com o seu sofrimento, e porque nós o entendemos, nós aprendemos também. Por exemplo, Gloucester em Rei Lear perde seus olhos porque ele não viu a traição de seu filho até que já era tarde demais. Isso nos faz perceber o valor de ser capaz de ver, tanto literal como figurativamente, o que está acontecendo ao nosso redor. Já que eu já confessei que tenho um passado comRomeu e Julieta, vou usar um outro grande clássico como exemplo. Nesse caso, um filme: Aliens, de James Cameron. (Você acha que Aristóteles não aprovaria? Eu disse que era uma especialista da literatura, não uma esnobe.)
Em Aliens, nosso herói é o Ripley, o último tripulante sobrevivente de Nostromo, uma nave espacial onde todos são massacrados por monstro alienígena de 2,40 metros de altura, de armadura e que pinga ácido. Ela escapa e se lança numa animação suspensa para sua longa jornada de volta à Terra, e quando ela chega aqui, cinqüenta e sete anos se passaram. Sua filha já havia crescido e morrido. O mundo havia mudado e ela está sozinha nele. Ela perde sua licença para voar, arranja um emprego horrível, e é perseguida por horríveis pesadelos, onde um monstro quer que ela volte com ele para o planeta de onde ele veio, e essa é, na verdade, sua melhor opção.

Diferente do personagem de Jim Carrey em O Mentiroso, Ripley não faz nada para merecer isso. Quando ela e uma equipe de astronautas chegam ao planeta alienígena, ela é forçada, novamente, a enfrentar os monstros que mataram sua antiga tripulação e a deixaram sozinha no universo. Ela faz amizade com Newt, uma pequena menina largada (porque toda história infestada de alienígenas precisa de uma órfã precoce), o que a leva a problemas ainda piores, porque quando o ácido bate no ventilador (uma adaptação de ‘merda no ventilador’, para mostrar que a situação ficou ruim), ela não pode abandonar seus companheiros, Newt em especial, para morrerem mortes horríveis nas mãos – patas – dos alienígenas.
Então, vamos falar de Bella Swan. À primeira vista, ela parece estar no controle. Ela tira boas notas, toma conta de seu pai, Charlie, faz o jantar toda noite. Embora ela tenha tomado a decisão de se mudar para Forks, ela parece encarar a situação como dos males o menor: viver num lugar estranho e sem sol com Charlie, ou viver com sua mãe, Renée, que acabou de se casar novamente, a impedindo de seguir seu marido jogador de baseball na estrada. O último não é uma alternativa viável para Bella; existe apenas uma escolha para ela, e isso a levará a seu destino.
Em Forks ela conhece Edward, e as coisas saem de seu controle. Ele a chama de “ímã de problemas” e isso certamente parece ser verdade. No primeiro quarto de Crepúsculo, ela é quase esmagada pela van de Taylor, desmaia em sala de aula, e encontra uma gangue de marginais numa ida a Port Angeles. Isso sem falar que ela está sempre tropeçando e caindo. (Seria sua maneira desastrada uma metáfora para o que ela realmente é: não somente uma desengonçada, mas uma heroína clássica, movida pelo desejo do destino? Ou seria sua imperícia um reverso do conceito dramático Grego do deus ex machina (expressão em latim, literalmente significa “Deus surgido da máquina”, refere-se a uma inesperada, artificial ou improvável personagem, introduzida repentinamente em um trabalho de ficção ou drama para resolver uma situação ou desemaranhar uma trama)? Em vez de os Deuses aparecerem no final da peça para consertar os problemas das personagens, os Destinos estão fazendo Bella tropeçar constantemente para lhe causar problemas e mantê-la em seu caminho predestinado?)
Mais tarde no livro, as coisas ficam muito sérias e extremas quando Bella atrai a atenção do vampiro matador James. Ele não é apenas um vampiro carnívoro, mas sim um com uma obsessão por caçar. Ele é como o Exterminador: uma vez que ele sentiu seu cheiro, nunca vai parar. Não é só sua vida que está em perigo, mas a de Renée e Charlie também. Parece, por um momento, que estamos sendo guiados a um palco trágico, cheio de cadáveres. E o que ela fez pra merecer isso? Nada além de se apaixonar por Edward. Você pode dizer que isso não foi sábio de sua parte – os fãs do Jacob certamente falarão isso – mas você não pode dizer que ela fez algo errado.

Fonte: Twilight team

Continua....

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