quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aque ponto chega o vicio de ser fã pela saga Crepúsculo

Alguns fãs do livro e da série de filmes estão descobrindo que sua obssessão está ferindo outras partes de suas vidas. Chrystal Johnson não achava que havia nada de errado com sua fixação pela Saga Crepúsculo - até que descobriu estar sugando a vida de seu próprio casamento.

"Encontrei poemas que meu marido havia escrito em seu diário sobre como eu tinha me apaixonado por um 'vampiro de olhos dourados'," diz Johnson, uma contadora de 31 anos de Mesa, Arizona, que se tornou tão encantada com a série arrasa-quarteirão de romances e filmes para jovens adultos que se descobriu ficando acordada a noite toda, relendo capítulos picantes e conversando sobre notícias do elenco e o romance eles-estão-eles-não-estão das estrelas dos filmes, Kristen Stewart e Robert Pattinson.

"Crepúsculo estava sempre na minha cabeça, ao ponto de eu não poder funcionar mais," Johnson diz.

Qualquer um que já tenha dado uma espiadela em uma convenção de quadrinhos ou ido a uma exibição tarde da noite de The Rocky Horror Picture Show sabe que alguns fãs de cultura pop não são exatamente conhecidos por sua moderação. Mas há algumas diferenças-chave que distinguem os fãs de Crepúsculo e sua obssessão sem fim daquelas paixonites inspiradas por outros tipos de entretenimento.

"Um monte de fãs dá início a um comportamento obssessivo, mas chegar ao ponto em que isso prejudica seus relacionamentos na vida real é realmente incomum," diz Nancy Baym, professora adjunta de estudos da comunicação na University do Kansas e autora de Tune In, Log On: Soaps, Fandom and Online Community. "Quando você fala sobre alguém que se levanta às 4h da manhã e sacrifica o casamento, isso soa como comportamento viciado."

Como seus vampiros imortais, Crepúsculo, com seu chamado arquetípico de meninos maus e torturados e romance proibido, foi capaz de transcender a barreira da idade, criando seguidoras (a maior parte mulheres) desde adolescentes até membros do clube da melhor idade. Acrescente a isto o acesso instantâneo promovido pela internet, oferecendo fuga 24 horas por dia para um universo repleto de Crepúsculo, cheio de pequenas informações tentadoras e uma comunidade de almas afins, e o resultado é um número crescente de pessoas cujo amor pela franquia parece haver cruzado a fronteira do casual em direção ao compulsivo.

Para uma ilustração recente da mania Crepúsculo, não é preciso olhar além das centenas de fãs que armaram barracas e dormiram ao ar livre por dias na frente do Nokia Theatre no centro de Los Angeles, com a esperança de ter um vislumbre de uma das estrelas na premiere de tapete vermelho de Eclipse, o último lançamento da franquia, que estreia nacionalmente dia 30 de junho. "Esta é a primeira vez que estou sendo tão passional a respeito de algo," diz Kelli Chavez, uma mãe de 39 anos que veio dirigindo de Sylmar. "Eu li cada livro pelo menos oito ou nove vezes e assisti cada um dos filmes mais de 300 vezes."

Chavez não hesita quando perguntada se alguém em sua vida tem o mesmo peso de sua paixão por Crepúsculo. "Meu filho de 6 anos," ela diz sobriamente. "Definitivamente preciso entrar nos Crepúsculos Anônimos para [me curar]."

Há um Crepúsculos Anônimos, mas não é um grupo com um sistema de 12 passos. Na verdade, é um site para fãs que querem alimentar seu hábito, e não livrar-se dele. Mas um número crescente de confissões tem aparecido em foruns públicos de mulheres preocupadas com suas tendências a negligenciar aspectos importantes de suas vidas cotidianas para mergulhar na fantasia da saga operesca de Stephenie Meyer sobre Bella (Stewart, nos filmes), uma garota comum de cidade pequena cujo appeal-que-niguém-entende atrai a afeição de um par de garanhões metafísicos: um vampiro, Edward (Pattinson), e um lobisomem, Jacob (Lautner).

Portais de aconselhamento como o Yahoo Answers têm lidado com apelos desesperados do tipo "Como acalmar meu vício em Crepúsculo, por favor me ajude!?" Alguns foruns de sites têm virado espécies de grupos de apoio, cheios de testemunhos em pânico. "É como uma droga," escreve uma fã preocupada com o pseudônimo de Ally. "Eu tenho que lê-lo ou desabo em lágrimas. É horrível. Não quero falar com ninguém sobre isso. Mas temo que não seja saudável."

Ainda que possa ser caracteristicamente melodramático das viciadas em Crepúsculo ligar uma leitura de fim de noite a uma estadia futura em uma clínica de desitoxicação, não há dúvidas de que a franquia não se presta para um interesse casual. Conhecer Crepúsculo é amá-lo ou odiá-lo, sem muito espaço para nada entre uma coisa e outra. Nenhuma série de livros que viraram filmes, com as notáveis exceções de O Senhor dos Anéis e Harry Potter, capturou a imaginação popular com intensidade tão duradoura. Em todo o mundo, a Saga Crepúsculo vendeu mais de 100 milhões de livros, e somente os primeiros dois filmes arrecadaram mais de U$ 1,1 bilhão.

Ainda que o sucesso de Crepúsculo seja frequentemente atribuído a adolescentes risonhas que aparecem em bando para assistir os filmes repetidamente, a franquia se beneficiou de ser um dos poucos itens de cultura pop a tocar as paixões de mulheres de meia idade.

"Eu passo o dia todo buscando notícias de Crepúsculo na internet, da hora em que acordo até quando vou dormir de meia-noite," diz Joyce Swiokla, 50, antigamente engenheira e agora dona do website CullenBoysAnonymous.com. "Se há um componente químico que é secretado quando você está se apaixonando, seu cérebro fica cheio dele quando está lendo ou assistindo Crepúsculo. Você tem aquela sensação utópica de primeiro amor e quer experimentar aquilo de novo e de novo."

"Meu marido finalmente chegou para mim e disse 'acho que você ama mais Crepúsculo do que a mim'," diz Johnson, que ficou especialmente apegada à comunidade que encontrou online. "Eu terminei saindo de casa e lutei por meu casamento por seis semanas. Tive que dar um passo para trás e me desintoxicar de Crepúsculo. Fiquei realmente com raiva de ter me deixado levar. Agora encontro todos os dias mulheres que deixaram Crepúsculo virar um grande problema em seus casamentos."

Parando de uma vez com o vício, Johnson conseguiu se livrar do hábito. E, com algum esforço, seu relacionamento voltou ao normal depois de um tempo. Mas para algumas pessoas, o romance, a intriga e as fofocas de celebridade que estão a apenas um clique de distância são muito difíceis de resistir.

"O que você está vendo com Crepúsculo tem a ver com as ramificaçõs de nosso acesso infinito à cultura pop," diz Kimberly Young, professora na St. Bonaventure University em Nova Iorque e psicóloga especializada em tratar pacientes com vício em internet. "Qualquer vício se trata de uma fuga, e algumas destas mulheres o estão usando para preencher um vazio. Esta é a forma delas se conectarem. Em vez de assistir novelas o dia todo, elas estão online acompanhando Crepúsculo. E agora podem conversar entre si e isso se torna uma oportunidade de se conectar com outras fãs."

O papel da internet na cultura pop sempre teve o efeito paradoxal de fazer as pessoas se sentirem ao mesmo tempo conectadas e alienadas. Então não é de surpreender que as pessoas que passam um bom tempo coladas em suas telas de computador também procurem apoio na companhia de amigos online de corações solitários. "Adorei encontrar esta comunidade de mulheres empolgadas sobre a mesma coisa que eu," diz Johnson. "Eu consegui esse grupo totalmente novo de amigas. E, como uma mãe que passa a maior parte do tempo no trabalho, a apreciação das outras era uma coisa muito legal."

Mas de todos os romances e filmes que já rodaram as livrarias e cinemas, porque o trabalho de Meyer e não, por assim dizer, o de Jane Austen ou de Nicholas Sparks, incendiou as massas? Não há poucas teorias por aí. "Algumas pessoas sugeriram um contexto de 11 de setembro em relação a Crepúsculo," diz o sociólogo da UCLA David Halle. "Os vampiros representam o perigo vindo de pessoas que moram entre nós e que você não esperaria que fossem perigosas."

De qualquer forma, pode haver uma explicação bem mais simples para as mulheres passarem tanto tempo obcecadas com Edward e Bella (cuja saga culmina em Amanhecer, que foi dividido em dois filmes, a estrear nos outonos de 2011 e 2012).

"Se você tira Crepúsculo e substitui por um time de futebol, não parece tão diferente do que os caras têm feito por décadas," diz Baym. "Eles ficam até tarde da noite vendo estatísticas e jogando futebol de mentirinha. Você pode dizer da mesma forma que eles também perderam o contato com a realidade ou que estão viciados. Crepúsculo é só uma estória sobre a qual as mulheres estão se apaixonando, então as pessoas dizem que há algo errado com isso. Por outro lado, talvez a relação dos homens com o futebol seja disfuncional também."

Fonte: twilight team

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